(...) Aceita-se normalmente, em termos de definição, o princípio de que os jogos populares valem como forma de passatempo, descanso, recreio e divertimento. Parece-nos, contudo, que por trás deles houve sempre e há ainda um sentido estético e pedagógico que enforma todas as actividades culturais das nossas gentes rurais. Atente-se, a título de exemplo, no que se passa com o teatro popular, ainda vivo nos autos populares em cena aqui ou ali com infeliz irregularidade; atente-se no que se passa com as festas dos rapazes em algumas aldeias da Lombada ou ainda com as festas do ramo no Natal, com os reis, com a serra das velhas, etc.
Inerente à função recreativa, encontramos na origem e desenvolvimento dos jogos a preocupação de transmitir aos mais novos determinados conhecimentos e formas de vida que constituem o saber colectivo. Por outro lado, encontramos também a preocupação de exceder a execução dos companheiros/adversários, na tentativa de os vencer em feitos e de os suplantar na admiração e reconhecimento colectivos. Assim se sentia e vivia o jogo em épocas não muito remotas em que ele fazia parte do dia a dia das nossas comunidades rurais - divertimento e treino para os trabalhos ou para as necessidades da vida, competição consigo próprio e com os outros, numa tentativa de ultrapassar os feitos e a memória passados e de se perpetuar no futuro.
(...) Os nossos jogos são uma riqueza cultural grande que precisa de ser conhecida e preservada. Pensamos que a cultura é vida e, como tal, compete-nos a todos mantê-la viva. Os jogos, como elemento da nossa cultura, têm de manter-se vivos também e de fazer parte do nosso quotidiano, com um calendário próprio e adequado ao seu carácter e ao nosso quotidiano moderno.
Fonte: In "Jogos Populares” Brigantia Vol. X - n.º 4 -1990
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